segunda-feira, 29 de março de 2010

Heleno de Freitas, novo ídolo




Ao me deparar por acaso com a informação de que Heleno de Freitas foi aluno do São Bento e formado em Ciências Jurídicas e Socias pela UFRJ, me senti imediatamente supreendido por um jogador lá dos anos 40 ter essa excelente formação acadêmica e ser lembrado pelas suas atitudes temperamentais e futebol de alta qualidade. Senti-me instigado a procurar mais informações sobre a história desse jogador, que eu conhecia apenas algumas histórias interessantes superficialmente. Me deparei com uma infinidade de particulares que me geraram um fascínio instantâneo pela figura de Heleno de Freitas. Sua história é de um enredo épico grego, transposto ao cinema holywoodiano que explodia naqueles anos.
Pretendo começar o mais breve possível a ler o livro sobre ele e terminar esse post com mais base. Porém aqui vai uma história que demonstra bem o lado temperamental de Heleno:

"Um dos casos registrados, deu-se com um jogador argentino, chamado Valsechi. Após algumas tentativas de tabela, quando Heleno dava aquele passe "açucarado" e aguardava, logicamente, a devolução adequada da "tabela" tentada, não se aguentou ao ver outra bola que o Valsechi "devolvia" ao adversário, ao invés de seus pés. Parou em campo e enquanto a jogada prosseguia, ele simplesmente chegou-se ao gringo, dizendo:
"Veja nossas camisas. São iguais. Mesmas cores, preto e branco, mesmas listras verticais, mesmo escudo, calção preto, tudo igual, certo?
Valsechi, timidamente disse:"Si, cierto."
"Então, seu gringo idiota (já aos berros) POR QUE VOCE ESTÁ PASSANDO A BOLA PARA ELES, QUE TEM CAMISA VERDE E VERMELHA???"

Eis meu texto apresentação, após ler o excelente livro sobre a vida dele, pra todos conhecerem o básico sobre Heleno:

Heleno se destacava tanto dentro quanto fora de campo. Sua habilidade e técnica apuradas juntamente à sua cabeçada fulminante resultavam em gols que o consagravam, no gramado, como um dos maiores ídolos cariocas da era pré Maracanã. Seu comportamento intempestivo, facilmente irritadiço e chegando até a arrogância e prepotência que lhe rendia diversas suspensões e expulsões, também gerou a alcunha (que ele odiava) de “Gilda”, nome da personagem da bela Rita Hayworth no filme homônimo de 1946. Gilda tinha todas as características de Heleno, linda, rica e cheia de vontades. Além de se sobrepor dentro de campo, Heleno se diferenciava fora. Durante os primeiros passos do profissionalismo no Brasil, a maioria dos jogadores eram menos favorecidos, que só sabiam chutar a bola e disso dependiam para sobreviver. Já o mineiro Heleno, que veio morar em Copacabana ainda criança, estudou no tradicional colégio São Bento e formou-se mais tarde em direito. Fato que o deixava sempre mais próximo de dirigentes, jogando xadrez e conversando sobre política, do que dos próprios companheiros de time.
Levado ao Botafogo por Neném Prancha, que o descobrira na praia de Copacabana, Heleno se destacou nos juvenis ainda jogando como zagueiro. Só viraria atacante durante passagem pela equipe amadora do Fluminense, saindo de lá brigado com o técnico e já tido como de temperamento incorrigível, alguém cujo perfeccionismo cruel que o levava a desmoralizar e humilhar os colegas de equipe durante a partida quando estes erravam um passe ou perdiam um gol após uma assistência perfeita sua. Voltando o Botafogo, clube no qual jogou a maior parte da sua carreira, de 1937 até 1948. Porém, sem ganhar nenhum título (o que não chega a ser surpreendente). Em 1947, após o Botafogo terminar na segunda colocação pela terceira vez consecutiva, perdendo o título deste ano para o Vasco, Heleno desabafou: “Estou farto de ser vice campeão”. Após inúmeras discussões no elenco, o clima para Heleno em General Severiano ficara quase insustentável. O Boca Juniors que passava por uma fase terrível no campeonato argentino veio ao Brasil com a missão de voltar com um ídolo para sua torcida. Heleno desembarca na Argentina com status de salvador de pátria e grande craque brasileiro, reputação conquistada após sua brilhante atuação na Copa Rio Branco, disputada naquele país em 1946. A estréia de Heleno chega a corroborar com essas grandes expectativas, marcando dois gols na vitória por 3 a 0 sobre o Banfield. No entanto, o que se seguiu pelos meses seguintes foi um Heleno irritado com sua superexposição midiática e em guerra com os companheiros de time. Um ano depois, ele voltaria ao Brasil. Desta vez, para vestir a vitoriosa camisa do Vasco e esquentar ainda mais a caldeira do expresso da vitória, que já estava em plena velocidade. Ganharia em São Januário seu primeiro título, o campeonato carioca de 1949. O terceiro título invicto do Vasco nos últimos cinco anos. De São Januário, partiu com destino a Medellín a fim de jogar na pirata e milionária liga colombina que contava, dentre outros, com Di Stefano. Ao retornar ao Brasil, Heleno tenta uma nova chance no Vasco, porém era desafeto do treinador Flávio Costa, que o recebeu da forma mais hostil possível. Heleno, já demonstrando os sinais da insanidade que o enterraria em menos de dez anos, sacou um minúsculo revólver e apontou para o treinador vascaíno, que fora da polícia especial e desarmou o atacante com facilidade, ainda lhe dando uns murros. Heleno saia pela última vez de São Januário. Foram 24 jogos e 19 gols com a camisa cruzmaltina.
O que se seguiu foi a derrocada vertiginosa da carreira do ex-craque. Rejeitado pelos clubes por seu temperamento irascível, fez sua estréia no Maracanã com a camisa do América em 1951. Irreconhecível e expulso por brigar com seus companheiros de time ainda no primeiro tempo. Talvez derradeiro sinal de que já não estava saudável mentalmente e que sua natural excentricidade e irritação já haviam extrapolado irremediavelmente para a insanidade. Foi esta sua despedida do futebol. Os anos seguintes cheirariam a éter e pobreza.
Na seleção Brasileira, nunca teve a oportunidade de disputar uma copa do mundo. Enquanto ele estava no auge, o planeta estava muito ocupado se matando na segunda guerra mundial. Não sobrava tempo para a alegria do futebol em um mundo que se autodestruía em explosões. Na fatídica copa de 50, Heleno foi preterido por Flávio Costa, chegou a declarar à época que com ele no comando do ataque brasileiro, o Maracanazzo não ocorreria. Mas esse fato ficará apenas guardado em sonhos e suposições, o destino não permitiu que as 18 partidas e os 14 gols que Heleno marcou com a camisa do Brasil fossem durante a mais importante competição futebolística.
Heleno terminou seus dias da maneira oposta a que os seus fãs acostumaram-se a vê-lo. Seu ágil e admirável corpo agora jazia entravado na cama de um hospício. Sua fala elaborada agora se resumia a grunhidos. Passou os últimos cinco anos de sua vida sendo corroído pela loucura que a sífilis entranhou em seus nervos. Não havia mais lembranças do excepcional jogador que fazia multidões gritarem seu nome extasiados por sua genialidade em campo. Não havia resquício do advogado boêmio que passava as noites a se divertir no cassino da Urca. O pouco que restava era um corpo deformado, inoperante e entregue a loucura. Heleno morreu em 8 de novembro de 1959, aos 39 anos. Já sem ser Heleno.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Fragmentos I

E você acredita piamente que todos os homens pensam? Que já é intrínseco a eles a intelecção?
Pois eu não apostaria nisso. Quando vejo os olhos da maioria das pessoas, enxergo as janelas de grandes galpões vazios, onde ecoam os risos ignóbeis de que baba a vida. São olhares insossos que nada expressam. Nem contemplação, ponderação ou sequer curiosidade. Tudo passa despercebido e lá permanecem assim como entram. Sem qualquer mistério. A mera existência vã circundada de espetáculos ordinários.
A miséria povoa a maioria de nós, mesmo após séculos do pretenso renascimento. Só alguns renasceram. A multidão ainda perece em antros tão obscuros quanto sempre foram.

quarta-feira, 10 de março de 2010

La Máquina ou O Danubio azul parte III

O Danubio estava em crise. O elenco não conseguia se impor nem no campeonato Uruguaio. o bicampeonato veio graças a um adversário sem tradição na final. A última participação na libertadores parou numa mera oitava de final.
Era necessária uma reformulação no elenco. Me livrei de jogadores idosos e fiz contratações cirurgicas para as áreas mais fracas do time. Acho que finalmente consegui montar um plantel realmente forte. Ganhei o apertura, porém sem muito brilho apesar da vantagem de cinco pontos para o adversário.
E então ousei. Como tenho quatro atacantes de qualidade, decidi optar pela primeira vez por uma tática com três atacantes. Coloquei o Recoba e Gallegos pra esquentar o banco. Sinceramente, achei que o esquema não daria certo porque faltaria uma ligação entre meio-campo e ataque devido a ausência de um meia de criação. Ledo engano, a função de avançado recuado de Viudez consegue preencher o espaço junto com as chegadas dos meias Rodríguez e Grossmuller. E qualquer coisa eu tenho meias criativos no banco mesmo. Outra preocupação era uma possível vulnerabilidade da defesa porque com menos homens no meio campo eu perderia a disputa de bola na maioria das vezes. Outro engano, já que nos nove jogos que eu joguei com essa formação, tomei apenas um gol.

Essa é a responsável por um resurgimento moral e artístico do Danubio. O time tá copero y peleador. Eu faço um ou dois gols, dependendo da dificuldade do jogo e espero dar meados do segundo tempo para tirar um dos atacantes de colocar um volante, de preferência do Meléndez para jogar totalmente defensivo e segurar de vez. E tem dado certo, não sofri surpresas desagradáveis em nenhum jogo. Meu time sabe como praticar o milenar anti-jogo inerente a Libertadores.
Sem mais delongas analíticas, vamos aos resultados. No campeonato uruguaio, que encontra-se na metade, meu time já abriu cinco pontos de diferença pro segundo lugar. Pelo visto não será necessária a partida final. Ao que parece ganharei tanto o apertura quanto o clausura. Ótimo, férias mais cedo.

Copa Libertadores

Fui sorteado no grupo G ao lado de Deportivo Táchira, Universidad San Martin e São Paulo. A estréia foi na Venezuela contra os locais (Deportivo Táchira para os leigos) e vitória por 2 a 1 um pouco mais difícil do que eu esperava.
O segundo jogo foi contra o São Paulo em casa. Guardo rancor dos brasileiros por causa do Cruzeiro na última edição, mas dessa vez a minha vingança veio numa falta cobrada pelo Rodríguez que o Miranda desviou e morreu nas redes. Ganhei de 1 a 0, poderia ser mais até. Os paulistas não apresentaram perigo algum.
Depois de chutar paulistas, chega a vez dos peruanos do San Martín. Um jogo terrível e medonho ocorreu na altitude peruana e acabou em um fraco 0 a 0. Vale ressaltar que o meu time deve ser o único da história que joga com três atacantes e é garantido pela zaga que raramente toma gols. Ironias da vida.
Nos meus domínios, recebo o mesmo San Martín e me rendo a velha máxima de que não existe mais time bobo no futebol. Os malditos peruanos se seguraram de tudo quanto é jeito e arrancaram um empate em 1 a 1 porque o retardado do Grossmuller fez um penalti imbecil. Estou puto, a sorte é que o São Paulo empatou com o Deportivo Táchira na Venezuela e eu continuo na liderança do grupo com 8 pontos, 3 a mais que os desgraçados brasileños.
Por falar em brasileiros desgraçados, é contra o São Paulo no Morumbi o novo desafio. Jogo parelho, eu não fui defensivo porque queria testar os limites do time. Tudo muito equilibrado até o São Paulo fazer um numa bobeira. Em resposta, coloquei o time mais pra frente ainda e tomei outro de contra-ataque. Quando ativei a retranca, nada mais aconteceu no jogo e acabou com a minha derrota por 2 a 0. A primeira nos últimos 19 jogos. Embriagado pela conquista antecipada do terceiro título uruguaio e a derrota do São Paulo ante o San Martín no Peru (evitarei piadas sobre o São Paulo cair no Peru), meu time está a um empate em casa contra o Deportivo Táchira de garantir a primeira colocação do grupo. Vitória por 2 a 0. O time criou diversas oportunidades, podia ter sido mais. Raramente fomos importunados e as expectativas devidamente sanadas, vamos para as oitavas!



Oitavas de Final

Colo Colo 1 x 2 Danubio
Local: Monumental, Santiago - Chile
Colo Colo: Munõz; Rojas, Cereceda, Mena e Gonzalez; Caroca (Miralles) Salcedo, Macnelly Torres, Sanhueza (Silva) e Carvalho; Noir (Rojas) e Marín.
Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Rodríguez (Ciurlizza), Grossmuller; Gallegos (Meléndez), Balsas e Sebastián Pinto.
Gols: Rodríguez 19' 0-1; Balsas 66' 0-2 e Rojas 69' 1-2
O jogo: Time jogou muito. Abrimos dois a zero e tomamos um gol logo depois do nosso segundo porque eu demorei pra recuar o time. Os últimos minutos foram marcados por uma tentativa de pressão por parte do Colo Colo, o time sobe segurar bem.

Danubio 2 x 1 Colo Colo
Local: Jardines del Hipodromo, Montevidéu - Uruguai
Danúbio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Ciurlizza, Grossmuller; Gallegos (Meléndez), Balsas e Sebastián Pinto.
Colo Colo: Munõz; Vitale, Cereceda (Aranguíz), Mena e Gonzalez; Henríquez Salcedo, Macnelly Torres, Sanhueza (Silva) e Carvalho; Noir (Gazale) e Miralles.
Gols: Ciurlizza 21' 1-0; Cereceda 25' 1-1 e Silva 62' 2-1
O jogo: Tranquilidade. Abrimos com um gol logo de início, belíssimo chute da cirugica contratação de última hora Marco Ciurlizza. Tomamos um gol logo depois num lapso de desatenção e levamos o jogo no toque de bola e na conteção. Não chegou a ser sofrido, merecemos e fomos superiores todos os 180 minutos.

Quartas de final

Danubio 2 x 0 Palmeiras
Local: Jardines del Hipodromo, Montevidéu - Uruguai
Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Rodríguez, Grossmuller; Gallegos (Meléndez), Balsas e Sebastián Pinto.
Palmeiras: Bruno; Wendell, Armero (Gabriel Silva), Maurício Ramos e Maurício; Pierre, Souza (William), Cleiton Xavier e Diego Souza (Sandro Silva); Robert e Lenny.
Gols: Balsas 6' 1-0 e Pinto 39' 2-0
O jogo: Ganhar é bom, ganhar de brasileiro é melhor ainda! Admito que estava apreensivo (eufemismo para estar com o cu na mão) quanto a enfrentar um maldito brasileiro e sua economia e moedas cinco vezes mais fortes que as minhas. Contra o São Paulo tinha sido difícil, esperava também grande dificuldade contra o Palmeiras. O grande objetivo era evitar tomar gol em casa, porque isso podia foder com a minha vida seriamente. Fizemos um logo de cara com o Balsas e após o êxtase da comemoração pensei: "eles vão vir pra cima, fodeu". Porra nenhuma, as chances esporádicas que eles criavam não eram o bastante pra furar minha defesa de titânio. O time tocava a bola com inteligencia e precisão e seguia criando chances. No fim do primeiro tempo, Sebastián Pinto, matador, faz o dele e nos deixa confortáveis. E digo mais, ousei. Continuei com meus três homens de frente com o apoio do Grossmuller e do Rodríguez pro segundo tempo. Os desgraçados brasileiros, dependendo da velocidade do Lenny Kravitz contra a força da minha zaga pra criar alguma coisa, prosseguiam sendo envolvidos pelo meu toque de bola. Jogo equilibrado. E pra não abusar da sorte, aos 30 do segundo tempo entrou o Meléndez pra fechar de vez e mostrar quem manda no meio campo. Eles tentaram mais na base do abafa do que com criatividade. E na vontade ninguém ganha de mim. Construímos uma excelente vantagem, nos vemos en Brasil.

Palmeiras 0 x 1 Danubio
Local: Palestra Itália, São Paulo - Brasil
Palmeiras: Bruno; Wendell, Armero, Maurício Ramos e Maurício; Pierre, Souza, Cleiton Xavier e Diego Souza (Sandro Silva); Robert e Lenny.
Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Rodríguez, Grossmuller; Gallegos, Balsas e Sebastián Pinto.
Gols: Pinto 21' 0-1.
O jogo: Só digo que nem precisei apelar pra retranca em nenhum momento, fui muito acima deles. Não criaram quase nada e fizemos um jogo equilibrado, nem parecia que eu tinha a vantagem. Durante todo o jogo eu não assumi postura defensiva e eles não me pressionaram. Foram inferiores ao Colo Colo e nem me deram muito trabalho.

Semifinais

Danubio 1 x 0 Flamengo
Local: Jardines del Hipodromo, Montevidéu - Uruguai
Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Rodríguez, Grossmuller; Viudez (Meléndez), Balsas e Sebastián Pinto.
Flamengo: Bruno; Danilo Silva, Welington, Thiago Sales e Juan; Airton, Willians, Bruno Paulo (Camacho) e Vander (Erick Flores); Bruno Mezenga (Paulo Sérgio) e Adriano.
Gols: Pinto 66' 1-0
O jogo: Tenso. Se ganhar de brasileiro é ótimo, ganhar de flamenguista é inexplicável. Já imagino minha esquadra de uruguaios calando a boca daquela torcida suja no Maracanã. Jogo mais no meio campo, eles chegavam na velocidade do Paulo Sérgio e eu chegava no toque de bola. Tudo extremamente parelho e se encaminhando pra um empate quando o Sebastián Pinto fez o gol que dá a vantagem ao Danubio no jogo da volta. Será uma guerra. Espero que mais um brasileiro caia morto aos meus pés.

Flamengo 0 x 0 Danubio
Local: Maracanã, Rio de Janeiro - Brasil
Flamengo: Bruno; Danilo Silva (Lucas Galdino), Welington, Thiago Sales (Juninho) e Juan; Airton, Willians, Erick Flores e Vander; Bruno Mezenga (Bruno Paulo) e Adriano.
Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Rodríguez, Grossmuller; Gallegos (Meléndez), Balsas e Sebastián Pinto.
O jogo: Puta merda... coloquei três bolas na trave. Duas no primeiro tempo e uma nos acréscimos. O Adriano cabeceou duas na trave nos acréscimos. O meu time criou muito mais chances que o Flamengo durante o jogo. Numa expulsão do lateral direito deles aos 75min tudo parecia que ia ficar mais fácil e eu recuei o time pra segurar o traiçoeiro e perigoso 0 a 0. Pra que... foi um sufoco do caralho. Mas o resultado foi justo sim, fui mais time que os imundos durante o jogo todo. Agora a missão está mais que cumprida. Abaixo o sucinto texto do FM que ratifica meus comentários sobre o jogo. Destaque para o número de torcedores que sairam chorando do Maracanã.


Final

Boca Juniors 0 x 0 Danubio
Local: La bombonera, Buenos Aires - Argentina
Boca: Migliore; Ayala, Cahais, Manzur (Roberto) e Monzón; Medel, Benavídez, Riquelme e Graciám (Roncaglia); Pratto (Claudio Pitbull) e Viatri.
Danubio: Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Victor Cáceres, Rodríguez, Grossmuller; Gallegos (Meléndez), Balsas e Sebastián Pinto.
O jogo: Foi um jogo ruim. Eles tentaram cruzar bolas pra área mas não deu em nada. Conde fez uma ou duas boas defesas e eu quase não cheguei ao ataque, muito menos criei perigo. Mas tá bom, vou decidir em casa. Lembrando que não tem caô com gols fora de casa na final, então tá tranquilo. A nota triste é a contusão de Victor Cáceres, o volante de ouro. Provalvemente darei a vaga a experiência e malícia de Rodrigo Meléndez.

Danubio 2 x 1 Boca Juniors
Local: Jardines del Hipodromo, Montevidéu - Uruguai
Danubio: Danubio: Conde; Gunino, Silva, Fernandez e Pablo Lima; Meléndez, Rodríguez, Grossmuller (Porras) ; Gallegos (Recoba), Balsas (Ciurlizza) e Sebastián Pinto.
Boca: Migliore; Ayala, Cahais, Manzur e Monzón; Medel, Battaglia (Roberto), Riquelme (Gracián) e Benavídez; Pratto e Viatri (Claudio Pitbull).
Gols: Monzón 28' 0-1; Andrés Fernandéz 38' 1-1 e Recoba 99' 2-1.
O jogo: Exatamente o oposto do primeiro. Os dois times criando chances o tempo todo, tocando bola, atacando. Eles abriram o placar com um chutaço do Monzón de fora área (já que não conseguiam entrar nela). Dez minutos depois penalti do héroi do título, Medel, volante do Boca. O zagueirão Fernandéz bateu e empatou. A partir daí chances esporádicas dos dois times e prorrogação. O técnico tira o jovem e virgem Gallegos e aposta no veterano e iluminado Álvaro Recoba. Mais um penalti cometido pelo Medel e Recoba põe a bola na marca e vira o jogo!
A partir desse momento, eu coloquei o time todo dentro do gol e esperei o tempo passar. O Boca só criou mais um ataque ineficiente e o título fica no uruguai! Quero dedicar esse título a Recoba e Schiavi que irão se aposentar após esse jogo.


Danubio, campeão da Copa Libertadores 2012.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Manual prático de como fazer uma novela do Manoel Carlos

Tendo em vista a decrépita situação do novelista Manoel Carlos graças a sua idade avançada e excesso de peso, ele não deve durar o suficiente para escrever mais duas ou três novelas. O que é motivo de celebração para todos nós brasileiros; e porque não, todos nós seres humanos. Assim que o tal novelista pegar seu passaporte para o inferno, ficará um vazio na dramaturgia brasileira. Quem será o porta-voz da zona sul carioca? Quem levantará a bandeira das causas do Leblon? Quem narrará as aventuras extraordinárias das donas de casa da Delfim Moreira?
Não entre em pânico, pobre socialite do Leblon. Suas noites não ficarão desprovidas de toda a emoção gerada por essas ilustres histórias do cotidiano fantasioso carioca. Qualquer um de nós pode preencher essa vaga tão essencial para a vida do brasileiro. É só seguir alguns passos básicos e pronto. É mais fácil do que fazer uma pipoca de microondas, embora a sua mulata empregada doméstica ou "secretária do lar" costume fazer isso para as protagonistas da novela, que são incapazes de limpar o próprio rabo.
Tudo pode ser condensado numa fórmula simples em alguns passos:

1. Iniciando a trama
Pegue uma Helena. Normalmente você deverá se basear em uma mulher independente que terá entre 30 e 50 anos. Ela não trabalhará. Se muito, um daqueles trabalhos aonde não se faz porra nenhuma, onde ela aparecerá algumas vezes por semana pra ficar duas horas, tomar um café e fofocar com as diretoras.

2. Definindo o local
Insira essa Helena bem sucedida, cheia de amor pra dar com um turbilhão de emoções conflitantes e a coloque no Leblon. É importante certificar-se que há pelo menos três imagens aéreas de ângulos diferentes do bairro, duas imagens de crianças brincando em alguma praça, uma tomada da praia numa manhã de sol e céu azul (importante conferir se a praia não está lotada e sim bem frequentada de distintos moradores lendo o jornal O Globo relaxando pelas manhãs) e por fim duas tomadas diferentes de jovens atraentes passeando com cachorro. Essas imagens serão alternadas durante os nove meses de exibição da novela para indicar a troca de cena.

Pronto, agora que você já tem uma Helena no leblon, meia novela já está pronta. Vamos aos ornamentos secundários, como roteiro, resto do elenco e a história propriamente dita.

3. Ornamentando o núcleo principal
Helena e seu marido, obviamente um grisalho atraente ou um trintão malhado dono de uma empresa aonde ele fica o dia inteiro em seu escritório olhando fotos da família sorrindo enquanto coça o saco e pensa na vida, deverão passar por uma crise conjugal e separação dolorosa provocada pelo adultério de algum dos cônjuges. Após isso Helena, carente e magoada, irá se envolver com outros bem sucedidos esteticamente exemplares ao longo da novela. É crucial entupir todos os fatos da trama com intrigas. Das mais idiotas como mentir pra algum familiar pra se dar bem até mandar matar um inimigo. Cerque nossa baluarte com dois ou três filhos bonitos e obviamente com empregos de remuneração alta aonde não se trabalha. Recomenda-se um filho médico, para que possa se desenrolar histórias comoventes com vítimas acidentadas e uma filha advogada com pseudo consciência social. Guarde as profissões de engenheiro ou arquiteto para o terceiro filho opcional ou o núcleo secundário.

4. Construindo o núcleo secundário
O núcleo secundário é responsável por dois lados distintos da trama. São eles que enchem lingüiça com babaquices e atitudes retardadas e carregam o lado social da história. A primeira parte é simples e evidente, coloque intrigas familiares, pessoas com distúrbios morais e agindo feito verdadeiros animais que só pensam em foder os outros, ganhar dinheiro e fornicar. Esse núcleo brigará pela herança, tentará roubar a empresa do controle do pai e deixar ele na merda bebendo chorume em alguma esquina qualquer, irá colocar marca de batom na cueca do amado para destruir o casamento dele e ir consolá-lo numa imensa demonstração de canalhice e cinismo... Enfim, esse tipo de putaria e absurdo que o povo adora xingar enquanto está na manicure, no bar ou na fila do supermercado. O segundo tomo exige maior atenção: O lado social. Este segmento serve para dar um quê humanitário a novela. Fingir que ela tem alguma utilidade ou serviço público. Esses problemas sociais devem ser as questões que afligem a sociedade pós-moderna. Mas não se esqueça que a novela se passa no leblon. Nada de exclusão social, concentração de renda, alienação cultural, problemas educacionais e coisas do gênero. O que interessa são os problemas estão no âmago da elite carioca e que não interferem na atual ordem social. Coisas do tipo epidemia de dengue, preconceito com portadores da síndrome de down, falta de infra-estrutura para deficientes físicos, alcoolismo, poluição ambiental, má conduta no trânsito, envolvimento com drogas, violência contra mulher, cleptomanía... esses pormenores que sensibilizam quem assiste e tem o objetivo enfiar goela abaixo do povo noções básicas de cidadania e educação. Esses assuntos deverão ser tratados em conversas no café da manhã enquanto a empregada ( obrigatóriamente mulata, gostosa e safada com no máximo 25 anos) serve a mesa farta ou em algum projeto filantrópico que essas nobres almas do leblon ajudam com todo o amor, carinho e atenção.

5. Terceiro núcleo ou os menos favorecidos
Esse é o núcleo comediante da novela, afinal todo mundo do leblon quer mais é rir da cara do pobre mesmo. Jamais eles morarão no leblon ou arredores. Eles são provenientes de alguma favela bonitinha e pacífica, aonde a vizinhança amigável vale mais do que saneamento básico. É importante tratar a falta de dinheiro com uma certa alegria e "glamurização". Eles estão com pouco dinheiro, mas sempre pagando os impostos em dia, nunca com risco de despejo, nunca passam fome, as contas são pagas religiosamente na data e eles estão sempre levando a vida com um sorriso no rosto, no típico "jeitinho brasileiro". São modestos e humildes, limpinhos, na grande maioria negros e mulatos que trabalham no terceiro setor. É a empregada gostosa, o motorista, o porteiro. Essa galera gente boa que tá sempre no churrasco, puxando o pandeiro pra começar com o pagode, se envolve numa confusão cômica, fala alto em casa e rola briga no jantar. Um pastelão cheio de piadinhas e estupidez pra todo mundo soltar uma gargalhada diante da rudeza do povinho sem dinheiro e não ficar só nas desgraças e chantagens da galera rica.

6. Finalizando o trabalho
Agora que o esqueleto está pronto, falta terminar a estética da novela. Certas coisas são deveres de todo o novelista. Por exemplo, escolha um personagem meio insignificante do núcleo rico pra começar a fazer muita merda como roubar, matar, trair e esse tipo de leviandade. Afinal, nem todos podem acabar felizes. Este deve acabar preso, pobre ou morto.
Por falar em morte, outro ponto fundamental é matar alguém. Alguém tem que morrer, pras pessoas lidarem com a perda, chorarem e terem que superar esse baque terrível. E por falar em superação, algum dos personagens principais tem que se foder muito. Geralmente um dos filhos da Helena é uma ótima escolha pra isso. Tire todo o dinheiro dele, faça a mulher que ele ama fugir com um francês milionário, coloque ele em um acidente de carro em que ele sofra alguma sequela séria... esses fatos chocantes que "pode acontecer com qualquer um" e arruinam a vida dele e das pessoas envolta. Preconceito é uma boa pedida também, mas tem que ser descarado pra todo mundo entender.

Caso você queira ser original, troque Helena por Joana e Leblon por Ipanema e você será aclamado o mais criativo roteirista da década.
Em apenas seis passos você terá sua própria novela! No nosso manual não-prático serão oferecidas uma série de acidentes, mutilações, chantagens, piadas estúpidas e problemas existenciais-superficiais para você escolher. E quem sabe com um pouco de sorte e um muito de amizades no meio artístico, você consiga ganhar dinheiro assim, sem fazer porra nenhuma de útil escrevendo um monte de baboseiras imbecis sobre pessoas degeneradas e superficiais. É um trabalho sujo, podre e indigno. Mas quem liga? O importante é manter a ordem social às custas de milhares de vidas ordinárias e miseráveis. Elas aplaudem mesmo.