terça-feira, 24 de novembro de 2009

Baitemannageo

Enquanto meus olhos corriam pelas páginas de Tristes Trópicos, livro do antropólogo francês Lévi-Strauss que narra suas andanças pelo Brasil lá pela década de 1930, surge mais uma daquelas esquisitas palavras indígenas: "baitemannageo".
Esse incomum verbete pode ser trazido como "casa-dos-homens". É localizada no centro da aldeia Bororo. Um lugar oval e maior que as demais cabanas, é lá que dormem os homens solteiros e todos os homens passam o dia enquanto não estão pescando, caçando e coisas do tipo. O acesso é estritamente proibido a mulheres. Lá os indíos fumam, bebem, fazem rituais e toda a merda que eles estiverem afim sem mulher nenhuma pra encher a porra do saco, pedir pra botar na novela e essas coisas de quem não tem pênis.
Essa é a coisa mais legal que os índios já nos ensinaram, junto com o tabaco e passar o dia todo deitado na rede.
Agora imaginem um baitemannegeo ocidental: Um campo de futebol, fliperamas, computadores com FM e Fifa 10 com times sulamericanos. Mesas de sinuca estão alinhadas logo ao lado das mesas de carteado. Andando um pouco mais, nos deparamos com mesas fartas com batata frita com bacon e cheddar e todas essas frituras. Ao lado, vários tipos de bebidas que vão da cachaça mineira ao whisky escocês. Logo a frente o telão, que quando não passa futebol ao vivo, transmite filmes como Stallone Cobra, O Exterminador do Futuro, Rocky e todos esses épicos másculos.
Óbviamente pensaríamos em escravizar alguma aldeia rival para cuidar do gramado, limpar o ambiente e essas tarefas do lar. Mas aí reside a coisa mais bonita do baitemannageo, que o difere de todos esses hotéis de luxo, puteiros cinco estrelas e todos os demais ambientes degradados e podres tão característicos da cultura ocidental. Ele teria uma auto-gestão. Enquanto você frita as batatas, seu amigo serve as bebidas. Enquanto você limpa os coletes, o seu time apara o gramado. Que coisa maravilhosa, que comunhão incrível. Um por todos e todos por um.
E entre uma jogatina e outra, antes da bebedeira, vamos para a cabana do lado ajudar a mulher na perpetuação da espécie.
Nunca um encontro de culturas foi tão agradável.

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