terça-feira, 17 de novembro de 2009

Especial um ano sem colégio - Parte I

Final de novembro. Há um ano atrás a contagem regressiva para o fim das aulas representada em linhas tortuosas em uma cartolina amassada pendurada no fim da sala já estava em seu momento derradeiro. Então eu me lembro com profundo alívio que já faz um ano que a agonia daqueles dias intermináveis não faz parte do meu mundo.
Agora tudo parece tão distante e ao mesmo tempo tão próximo. É uma fase que jamais voltará e ainda permanece fresca na minha memória.
Então nada melhor que recordar alguns momentos épicos dessa árdua trajetória pelos ensinos fundamental e médio.

Pra organizar, nada melhor do que fazer tudo por ordem cronológica. Então vamos retornar a década de 90. Quando o Vasco ganhava tudo, o futebol brasileiro era romântico, o Nirvana foi uma febre mundial, o Nintendo 64 era o auge da diversão e nenhum de nós tinha barba.
O jovem Lucas era uma das crianças serelepes que subiam a Figueiredo até o cume da copacabana plana, a Rua Henrique Oswald. Lá, num simpático casebre de design pouco comum, funcionava a Escola Degrau. E daquelas paredes sujas, sob a tutela de Dona Célia ocorreram as primeiras odisséias da minha vida.



São tantas coisas que é difícil saber por onde começar. Mas vamos começar pelo clássico: "Ele me traiu" estrelando: T. Jack.
Só pra contextualizar, eu era um filho da puta. Na acepção mais grosseira da palavra.
Era uma manhã de Julho que tinha tudo para ser normal. Mas havia algo de diferente no ar. Ou melhor, no meu fichário. Era um Exeggutor, não um Exeggutor comum. Na verdade incomum, já que ele tinha aquele pequeno losango no canto inferior direito. Era um Exeggutor raro, provavelmente falsificado, conseguido na mítica liga pokemon de Piracicaba. Na quinta série, as carteiras eram postas em duplas, em duas grandes fileiras em cada lado da sala. Nas últimas duas (sempre nas últimas) estavam Lucas e Marcel (não nesta ordem). Na da frente, sozinho, T. Jack. O pequeno T. era uma vítima, um patinho no assunto trocar cartas de pokemon. A mente em desenvolvimento de Marcel e Lucas já contava com a astúcia e a malícia suficientes para arquitetar o seguinte golpe: Trocar no mínimo três raras do T. Jack pelo Exeggutor de qualidade duvidosa. E durante o dia se desenrolou o plano: muita conversa, persuasão, discussão... passa o recreio e Lucas pede para que F. Baiano esconda o seu Exeggutor incomum. No meio da aula de artes o plano malévolo atinge seu auge. No momento em que o pequeno T. Jack troca as cartas, Lucas e Marcel gritam a plenos pulmões o mantra demoníaco, a palavra que era o pior pesadelo para todos que trocavam cards pokemon: "TROLHAAADOOO!!!" No mesmo momento o pobre T. Jack arregala os olhos como se um punhal atravessasse seu coração e conseguisse perfurar até sua alma. Ele tinha sido feito de otário, passado pra trás, caido no conto do vigário, dançado a dança do patinho... E tudo armado por seus dois colegas de classe. Em um impulso instintivo tentando inutilmente revidar tal humilhação, ele pega o trabalho de artes de Marcel, rasga, amassa e joga no chão. Coloca as mãos na cabeça e se fecha como um Porco espinho ao ser atacado em cima de sua mesa. Marcel revoltado com o ato de selvageria do T. Jack clama por justiça e protesta a Professora Vânia. A professora com seu tom masculino questiona o porque do ato hostil de T. Jack. Ele não responde. Lá pela terceira indagação ele grita com a voz de choro dos oprimidos: "ELE ME TRAIUUUU!!" e a turma toda ri. Marcel diz com um tom sacana ao extremo: "hehehe eu não trai ninguém não, eu hein". Vânia percebe o abalo emocional de T. Jack e o aconselha a ir beber uma agua. Ele se encaminha trôpego, vermelho e desorientado a porta.
Lucas e Marcel riem. As crianças não tem noção da consequência de seus atos.
Só pra constar, um ano depois o alicerce das cartas de T. Jack, um Charizard holográfico que reforçava seu deck de fogo, foi parar dentro da roupa íntima de Lucas. E depois foi trocado numa liga pokemon sem levantar nenhuma suspeita. Numa operação conhecida como "O Roubo do Século". Mas isso já é outra história...


É, eu era um criança difícil de lidar.


Galerinha do Degrau, Sacaninhas S.A.

1 comentários:

Lucas Coimbra disse...

HAHAAHAHHA "ELE ME TRAIUUUU"

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