quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Especial colégio pt II

Pulando dos tenros anos de ensino fundamental direto ao anarquismo ilusório do ensino médio. É evidente que nos últimos anos o colégio e seu império do mau ganhou mais um inimigo: a tecnologia. Desde os fones de ouvido até os celulares modernos, a sala de aula é invadida por um arsenal afiado de utensílios. Mas a modernidade que abalou o segundo ano residia fora das quatro paredes sujas da escola. Estava no meu computador. No seu computador, em todos os computadores. A internet era o sustentáculo de um blog que exibia todas as atrocidades, absurdos e disparates cometidos naquela fatídica turma. Quando o Chicken veio com a feliz idéia de construir um arcabouço digital, documentando as diversas insanidades que surgiam de nossas vis mentes, nós mal poderíamos imaginar no que esse simples passatempo pouco ortodoxo juvenil acarretaria.
Iniciam-se então as atividades. Uma foto de um roliço aluno jogado como um saco de batatas dormindo entre cadeiras no fundo da sala, vídeo de um estojo tão pesado que se assemelhava a um tijolo acordando este mesmo rechonchudo ser, dotado de tetinhas saltitantes, bruscamente. A novidade se espalha pela sala, todos vão conferir o novo esporte da sala, o frisbie com a tampa da lata de lixo.
Poucas semanas depois, nosso blog fica grande e a repercussão começa a incomodar os professores que nos atiram ameaças vazias sobre processo e direito de imagem. Eles tem medo, medo de suas faces de desespero seja expostas para o planeta inteiro na internet. Eles temem que o descontrole, despreparo e incompetência deles cheguem aos atentos olhares dos pais. Porém, o pior estava por vir. Chicken, que tinha seu nome estampado em garrafais letras como criador do blog é chamado para uma conversa com a Cida. Eu fiquei apreensivo, o que será que querem com ele? O que ocorrerá conosco?
Chega a hora em que eu sou convidado a me juntar a eles. Era uma sala a meia luz e ao redor de uma mesa redonda estavam sentadas com suas expressões de reprovação as três maiores forças do colégio. O ambiente se assemelhava a uma inquisição, elas tinha tudo documentado, impresso em cima da mesa. Confesso que isso me intimidou. Não havia mais espaços para mentiras e improvisações. Eram fatos e argumentos que poderiam me arruinar ou libertar. Começam aquelas perguntas que só pedagogas tem a desfaçatez de fazer. "Porque você não defendeu ele?", "O que você quer dizer com isso?", "Você está arrependido do que fez?", "Você acha isso engraçado?". A mentalidade idiota, também conhecida como "isso pode cegar", das coordenadoras chegou a supor que a foto do tosco dormindo poderia ser na verdade ele desmaiado após um espancamento! Olha o que eu tive que aturar... A começar pelo velho script que todos nós conhecemos. Eu me recuso a seguir roteiros, aquele foi o ponto onde a descendente da minha relação com a instituição de ensino se consolidou. "Não sou advogado dele e sim, acho engraçado". É preciso segurar o riso de qualquer maneira com elas detalhando as piadas, as zoações e os comentários do blog. Essa foi a parte mais difícil. Quando a garota que em toda sua genialidade pôs seu nome em fonte 72 no final de um dos vídeos foi chamada, volta-se a aquele velho script.
Fomos obrigados a nos desfazer do blog. Só nossas memórias podem recontar tantos e tantos fatos, além das ruínas do projeto do blog da turma 1201.
O mais doloroso dessa história toda veio a tona depois. Já livres e conversando sobre a reunião, Chicken observa: "Cara, a *nome da coordenadora* citou aquele vídeo do *nome do malfeitor* mosquito sendo jogado no lixo. Esse vídeo não tá no blog, caguetaram a gente. Não tinha como ela saber." Eu pasmo com tal conclusão concordo de imediato e percebo: fomos dedurados.
A união da turma que tomou suspensão coletiva porque não entregaram quem colocou o clipe na tomada e fez a luz do andar cair e que não disse quem havia amarrado a borracha da carteira no ventilador havia sido morta. Assassinaram o companherismo, se aliaram ao outro lado em troca de reconhecimento como boas pessoas. Na verdade são degenerados que colocam seus interesses acima dos outros e se metem ao invés de ficar na sua e não prejudicar ninguém. Esse tipo de atitude abriu meus olhos para o covil miserável aonde eu estava. Ali se abraçava inimigo como se fosse irmão, se elogiava na frente para humilhar nas costas. Era um ambiente doente repleto de falsidade, hipocrisia e insensatez. Pessoas mesquinhas que se definham na própria pequenez. Esse foi o começo do fim.

1 comentários:

Lucas Coimbra disse...

"dotado de tetinhas saltitantes"

HHAHAHAHAH

irado. eu Nem lembrava desse fato do vídeo que não tinha no blog... agora lembrei.

Coordenadora: "E você acha uma coisa legal pegar um aluno e jogar na lata de lixo?"

Eu: " .... ... peraí, esse vídeo eu não cheguei a postar no blog."

Coordenadora: "...errr.. tá bonito o dia né?"

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