sábado, 19 de dezembro de 2009

A lágrima do futebol


Neste dia 19 de dezembro, o futebol sofreu mais um golpe. Pela decisão do título mundial de clubes, foram postos frente a frente o campeão da américa do sul, Estudiantes de La Plata da Argentina e o campeão europeu, Barcelona da Espanha. Mais que a defesa de seus países, cores e escudos, o jogo simbolizava o confronto de dois diferentes tipos de futebol. O futebol clássico, de salários aceitáveis, de garra e raça. O futebol em sua essência, representado pelo Estudiantes e capitaneado pelo louvável Juan Sebastián Verón. De outro lado, o futebol empresa, marketing e financeiro. Corrompido completamente por dinheiro, cifras astronômicas e interesses questionáveis. Os europeus do Barcelona são o espelho do futebol moderno. Morrem os clubes e nascem as empresas. Se colocam ações em bolsas, se preocupa mais com o números de vendas e receitos do que com os de gols marcados. Esse modelo imundo e indigno, assassino do verdadeiro futebol, formador de exércitos de mercenários e desvirtuador do verdadeiro objetivo do futebol, que é a vitória, a glória e ser o melhor para lucrar mais e ganhar mais dinheiro em cima de transferência ou de torcedores.
Esses dois pólos se encontravam no gramado de Abu Dhabi. Óbviamente, o marketing do time de circo do Barcelona, que paga fortunas para ter os mais habilidosos a vestir suas caras camisa, era amplamente favorito. O Estudiantes era visto como azarão, já sendo subestimado e desqualificado desde a conquista da Libertadores. Provavelmente por não contar com salários absurdos e nomes consagrados. Por não ter ações na bolsa, fazer pré-temporada na ásia e coisas do tipo. Verón, o líder e reconhecidamente maior craque do time abriu mão de ganhar cinco vezes mais em qualquer outro lugar do mundo para jogar com o coração no Estudiantes. Atitude cada vez mais rara hoje em dia. Num mundo onde a ganância não tem limites, Verón já abriu mão de 30% do salário para que essa verba seja investida nas categorias de base do clube. E é esse tipo de sentimento que ele carrega pra campo, colocando o clube acima dele. Como se deve ser sempre, porém nestes tempos de valores trocados os jogadores fazem clubes de reféns e os usam como prostitutas. Os clubes centenários de tantas histórias, tanto amor e suor se vêem obrigados a se prostituir aos interesses de empresários que não tem outro objetivo senão angariar fundos às custas dos outros.
É nesse contexto que se enfrentam o periférico e abalado contexto sulamericano e o imperialista faminto mercado europeu. Felizmente, existem coisas que o dinheiro jamais poderá comprar. Sentimentos não são quantificáveis em cifras. A raça, o amor, a vontade, a luta e a entrega dos jogadores em campo nunca poderão ser comprados. É isso que se viu vestindo as camisas do Estudiantes. Enquanto do outro lado, os passes de letra e os toques de calcanhar, produtos das mercadorias do Barcelona tentavam em vão furar a barreira argentina.
Durante 88 minutos o título ia para as mãos apaixonadas de Verón. Na taça de melhor do mundo, escorreria o suor da luta de cada jogador sulamericano que não ganha 20% do salário dos famigerados jogadores do Barcelona. O sonho foi real e palpável, durante 88 minutos o sentimento se sobrepôs ao dinheiro. O mundo assistia que era possível combater a vil tsunami do futebol moderno e olha-la de cima. A cabeçada fulminante de Boselli, os passes sutis e formidáveis de Verón, a gana de Cellay impulsionavam o Estudiantes ao topo do mundo.
O futebol não é justo. Nunca foi e nunca será. Detalhes definidos em quatro minutos afastaram o Estudiantes do título. O Barcelona e seu dinheiro ganharam de um clube que não se entregou jamais. Será que se tirassem toda a verba da empresa Barcelona, eles seriam capazes de amedrontar alguém? Isso nunca se saberá.
A lição que fica é que embora tentem enfiar goela abaixo essa "modernização" do futebol, por mais que busquem destruir o futebol para criar sob seu túmulo do "futebol moderno", os clubes sempre serão maiores que as empresas. Sempre vão haver representantes do futebol arte, do futebol descompromissado e puro que conquistou o mundo inteiro e o tornou o maior esporte do planeta.
Neste dia 19, o futebol chorou. Chorou a derrota de um clube para uma empresa. Haverão outros encontros, e a certeza que fica é a que a guerra não está perdida.

Os representantes da essência do futebol nesse jogo foram:
Albil, Clemente Rodríguez, Desábato, Cellay e Re (Rojo); Verón, Braña e Benítez (Sanchez); Díaz, Enzo Pérez (Nuñez) e Boselli.
Técnico: Alejandro Sabella.

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