domingo, 31 de janeiro de 2010

A primeira profecia

É uma das lembranças mais nítidas da minha primeira década de vida, que ainda não havia se completado. Era um domingo de manhã, e como era costume na maioria deles, íamos para o sítio do meu avô passar o dia de domingo até que sol começasse a cair.
Não lembro o que meu avô fazia entre as árvores e nem porque eu o seguia. Só me recordo que estávamos nós dois ali, alheios ao rádio que provavelmente estava ligado perto da churrasqueira. Longe da conversa e do cheiro do almoço. Éramos só nós dois em meio às árvores despeçadas como se fosse outono. Como todo o domingo, voltaríamos pra casa a tempo de assistir o jogo pela televisão. Porém o jogo deste domingo era especial, era um domingo de Vasco e Flamengo. Decisão da Taça rio de 1999.
Eu com oito anos logicamente não entendia muito de futebol. Gostava de bola na rede e Vasco ganhando, o que acontecia com uma frequência considerável nessa época. O meu conhecimento na época assimilava as seguintes informações: Era um final, ou seja, quem ganhasse receberia uma taça, a levantaria e seria campeão. Era contra o Flamengo, o mais odiado. E o crucial: Edmundo estava de volta. Aquele cara que fazia gol toda hora a um tempo atrás quando o Vasco foi campeão brasileiro, daquele VHS que eu tinha com todos os jogos da campanha e que cresci vendo e revendo os milhares de gols que ele outrora marcara com a camisa do Vasco que eu vestia todo o domingo para bater bola sozinho ou na companhia do caseiro todo o domingo.
Voltando a história propriamente dita, meu avô estava um pouco agachado olhando pro taule de uma árvore. O que ele analisava ou diagnostica, desconheço até hoje. Provavelmente comentávamos algo sobre o jogo de mais tarde, na ansiedade pré-decisão. Nesse momento eu lhe disse: "O jogo vai ser 2 a 0! 2 gols do Edmundo!" certamente com os olhos juvenis brilhando, com a certeza absoluta e incondicional única das crianças. Ele olhou pra mim e sorriu.
Não lembro se falamas de mais alguma coisa depois. Nem sei como voltamos. Minha história continua quando me vejo na sala assistindo o jogo, mais precisamente no segundo gol do Edmundo aos 47 do segundo tempo após o cruzamento de Ramón. Dois a zero pro Vasco. E eu me senti o maior profeta do mundo aquele dia. Lembro que no dia seguinte comentei com meu avô como quem quisesse demonstrar empiricamente que é capaz de prever o futuro de uma partida de futebol: "eu disse! dois a zero e dois do Edmundo!"
Não sei se cheguei a acertar de novo um resultado com tamanha precisão, capaz até de dizer quem faria os gols. Se o fiz, esqueci. Seguramente porque não chegou nem perto dessa façanha do menino de oito anos. Eis abaixo um vídeo do jogo:



Sobre o jogo, foi um clássico típico da década de 90, até o arco-irís parava pra ver. Não seria exagero dizer que a partida era o pote de ouro. Dois bons times, porrada comendo solta sem os pudores da era do STJD e da mídia politicamente correta. Um jogo digno do futebol, um dos últimos suspiros do futebol puro nos campos brasileiros.

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